Minha terra, meu tesouro!
01
Desde que o mundo é mundo
Bondade sempre se via
Por onde que se passasse
O bem ainda sobressaia
Era o trabalho comunitário
De efeito extraordinário
Na ação da cidadania
02
Já na criação do mundo
Diz no livro santo
Que Deus não agiu só
Jesus deu o avanto
Era toda Trindade
Fazendo Comunidade
Pai, Filho e Espírito Santo
03
O brilho dos olhos emerge
De quem bem conviveu
Os feitos de caridade
Lição que as freiras nos deu
Onde pelo trabalho
Que era comunitário
A Campanha da Fraternidade
nasceu.
04
Foram tantos os impulsos
Que não tem mais muito efeito
Gente que aqui lutou
Ariscando o próprio peito
E hoje o que vemos de fato
Ditadura é o retrato
À liberdade não temos o direito
05
Como entender o sentimento
De frieza tal como esta
Se neste mesmo solo
Digo sem falsa modesta
Viveu a pioneira,
Diria até guerreira
A mulher Nísia Floresta?
06
Terra de gente boa
Desde a antiga Papary
Dotada de tantos dons
Que faz muita gente feliz
Bela em suas riquezas
Eu digo com toda franqueza
Que encanta a todos que a vi
07
Mas o que verdadeiramente
Há de vos libertar
É unir-se com bravura
Sem medo de enfrentar
Com ações comunitárias
A toda força contrária
Que quiser te derrotar
08
Tenho pensado na vida
Em tudo mesmo e sem frescura
Percebo que o conhecimento
É destes males a cura
Tem-se uma luta diária
E na ação comunitária
A riqueza é a cultura
09
Dizem coisas boas
Desta nossa cidade
Que tem praias e lagoas
Turismo de qualidade
Aí mora a contradição
Pois na terra do camarão
O povo passa necessidade
10
Pessoas fizeram história
Nísia, Yayá, Isabel
São muitos e eu nem me atrevo
A por aqui no papel
Pois não haveria espaço
Diante dos poucos traços
Pra os que tiramos o chapéu
11
Me preocupo com as crianças
Aqui já no tempo presente
Que não estão tendo acesso
A cultura de sua gente
Pirão, boi de reis, pastoril
Beleza igual não se viu
Imitar nem tem quem nos tente.
12
E pra falar de cultura
Deste nosso lindo lugar
Nem precisa buscar tão longe
Alguns ainda posso citar
Gente que tem bravura
E em suas vidas tão duras
Ainda conseguiram brilhar.
13
To falando de Manoel
Aquele que é Salvador,
Com poemas Dona Lourdes
Quem aqui já não escutou?
Os cantos destas senhorinhas
E os dramas de Dona joaninha
Que o Pai do céu já levou
14
Vixe que coisa bela
Que é feitas com as próprias
mãos
Tem cestas, redes e telas
Trabalho dos artesãos
É gente cheia de idéias
Pimentas, doces, geléias
Feito com dedicação
15
Tão vendo as esculturas
Espalhadas por toda parte?
São feitas pelo artista
Merecia até encarte
Trabalho desenvolvido
Por índio é conhecido
Por tantas obras de arte.
16
Quando paro pra escutar
O povo contando a vida
Vejo nos olhos o brilho
Por esta terra querida
Quando fazem memórias
Repassam suas histórias
Alegrias que foram vividas.
17
Vejo que é muita riqueza
Nem tenho a dimensão
De tudo que representa
A vida do cidadão
É dança, poema e renda
Tudo na mesma emenda
Causando admiração.
18
Mas o que me parece
Em tempos tão atuais
É que a beleza dessa gente
Está ficando pra trás
A todos então recorro
Como em grito de socorro
A sua história salvai.
19
Digo sem ter medo
Pra quem quiser ouvir
Gosto de muitas cidades
Mas amo viver aqui
Sou herdeira desta riqueza
E grito com muita clareza
Lugar melhor nunca vi
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Em tudo que escutamos
É grande o potencial
Desta linda cidade
Que é até maior que Natal
Mas também de que adianta
Se a beleza não encanta
Quem daqui é natural?
21
Não é gente de fora
Que tem que valorizar
Temos que ser os primeiros
Ao amor declarar
Pois como diz o poeta:
Não pode cantar o mundo,
Quem sua terra não cantar.
22
Por fim, peço desculpas
Sei que já falei demais
Mas sou muito inquieta
Com as questões sócio-culturais
E sempre fico pensado
Como em Nísia Floresta
Ter condições tão desiguais?
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Acredito que um dia
Ainda há de se ver
O povo nisiaflorestense
Podendo em sua terra crescer
Pois aquele que semeia
Doando o sangue da veia
Tem direito a comer.
24
Se juntássemos tudo isso
Que livre este povo seria
A luta de Nísia e outros
Finalmente valeria
E esse era o mostruário
Do trabalho comunitário
Na ação da cidadania.
25
Espero poder um dia
um verso então escrever
Relatando o meu sonho
De nesta cidade ver nascer
Ditadura sendo aniquilada
A democracia sendo brotada
E o povo poder vencer
Cynara Cardoso