Seguidores

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Minha terra, meu tesouro!

01
Desde que o mundo é mundo
Bondade sempre se via
Por onde que se passasse
O bem ainda sobressaia
Era o trabalho comunitário
De efeito extraordinário
Na ação da cidadania

02
Já na criação do mundo
Diz no livro santo
Que Deus não agiu só
Jesus deu o avanto
Era toda Trindade
Fazendo Comunidade
Pai, Filho e Espírito Santo


03
O brilho dos olhos emerge
De quem bem conviveu
Os feitos de caridade
Lição que as freiras nos deu
Onde pelo trabalho
Que era comunitário
A Campanha da Fraternidade nasceu.

04
Foram tantos os impulsos
Que não tem mais muito efeito
Gente que aqui lutou
Ariscando o próprio peito
E hoje o que vemos de fato
Ditadura é o retrato
À  liberdade não temos o direito

05
Como entender o sentimento
De frieza tal como esta
Se neste mesmo solo
Digo sem falsa modesta
Viveu a pioneira,
Diria até guerreira
A mulher Nísia Floresta?

06
Terra de gente boa
Desde a antiga Papary
Dotada de tantos dons
Que faz muita gente feliz
Bela em suas riquezas
Eu digo com toda franqueza
Que encanta a todos que a vi

07
Mas o que verdadeiramente
Há de vos libertar
É unir-se com bravura
Sem medo de enfrentar
Com ações comunitárias
A toda força contrária
Que quiser te derrotar

08
Tenho pensado na vida
Em tudo mesmo e sem frescura
Percebo que o conhecimento
É destes males a cura
Tem-se uma luta diária
E na ação comunitária
A riqueza é a cultura

09
Dizem coisas boas
Desta nossa cidade
Que tem praias e lagoas
Turismo de qualidade
Aí mora a contradição
Pois na terra do camarão
O povo passa necessidade

10
Pessoas fizeram história
Nísia, Yayá, Isabel
São muitos e eu nem me atrevo
A por aqui no papel
Pois não haveria espaço
Diante dos poucos traços
Pra os que tiramos o chapéu

11
Me preocupo com as crianças
Aqui já no tempo presente
Que não estão tendo acesso
A cultura de sua gente
Pirão, boi de reis, pastoril
Beleza igual não se viu
Imitar nem tem quem nos tente.

12
E pra falar de cultura
Deste nosso lindo lugar
Nem precisa buscar tão longe
Alguns ainda posso citar
Gente que tem bravura
E em suas vidas tão duras
Ainda conseguiram brilhar.


13
To falando de Manoel
Aquele que é Salvador,
Com poemas Dona Lourdes
Quem aqui já não escutou?
Os cantos destas senhorinhas
E os dramas de Dona joaninha
Que o Pai do céu já levou

14
Vixe que coisa bela
Que é feitas com as próprias mãos
Tem cestas, redes e telas
Trabalho dos artesãos
É gente cheia de idéias
Pimentas, doces, geléias
Feito com dedicação

15
Tão vendo as esculturas
Espalhadas por toda parte?
São feitas pelo artista
Merecia até encarte
Trabalho desenvolvido
Por índio é conhecido
Por tantas obras de arte.

16
Quando paro pra escutar
O povo contando a vida
Vejo nos olhos o brilho
Por esta terra querida
Quando fazem memórias
Repassam suas histórias
Alegrias que foram vividas.

17
Vejo que é muita riqueza
Nem tenho a dimensão
De tudo que representa
A vida do cidadão
É dança, poema e renda
Tudo na mesma emenda
Causando admiração.

18
Mas o que me parece
Em tempos tão atuais
É que a beleza dessa gente
Está ficando pra trás
A todos então recorro
Como em grito de socorro
A sua história salvai.

19
Digo sem ter medo
Pra quem quiser ouvir
Gosto de muitas cidades
Mas amo viver aqui
Sou herdeira desta riqueza
E grito com muita clareza
Lugar melhor nunca vi

20
Em tudo que escutamos
É grande o potencial
Desta linda cidade
Que é até maior que Natal
Mas também de que adianta
Se a beleza não encanta
Quem daqui é natural?

21
Não é gente de fora
Que tem que valorizar
Temos que ser os primeiros
Ao amor declarar
Pois como diz o poeta:
Não pode cantar o mundo,
Quem sua terra não cantar.

22
Por fim, peço desculpas
Sei que já falei demais
Mas sou muito inquieta
Com as questões sócio-culturais
E sempre fico pensado
Como em Nísia Floresta
Ter condições tão desiguais?

23
Acredito que um dia
Ainda há de se ver
O povo nisiaflorestense
Podendo em sua terra crescer
Pois aquele que semeia
Doando o sangue da veia
Tem direito a comer.

24
Se juntássemos tudo isso
Que livre este povo seria
A luta de Nísia e outros
Finalmente valeria
E esse era o mostruário
Do trabalho comunitário
Na ação da cidadania.

25
Espero poder um dia
um verso então escrever
Relatando o meu sonho
De nesta cidade ver nascer
Ditadura  sendo aniquilada
A democracia sendo brotada
E o povo poder vencer

  
Cynara Cardoso

Poesia em Versos

Porteira velha quando abre, faz
meia lua no chão.

Naquele sertão pacato
Frieza de bater os queixo
Com a coberta cobrindo os peito
Ruídos que vem lá do mato
Um povo de raça e de ato
Que sustenta a vida nas mão
Na lavora os pé no chão
Pra que a vida num se acabe
Porteira velha quando abre
Faz meia lua no chão

O dia começa mais cedo
Pra os que ali vem a morar
Nas dureza do lugar
Enfrentada bem sem medo
Menino fazendo enredo
Leva logo um moxicão
Mão molhada de sabão
A de quem não escreve mas tudo sabe
Porteira velha quando abre
Faz meia lua no chão

Rapadura é sobre mesa
Feijão banhado no jabá
O buxo vem logo a fartar
Mas isso não é pobreza
A prosa nas redondeza
Se espalha com lentidão
Tecnologia num tem lá não
Lá o que é bom é o que cabe
Porteira velha quando abre
Faz meia lua no chão

As mulher cuida da casa
Da comida e dos guris
Sem deixar de ser feliz
Nisso elas se embasa
Os homi vem arrastando asa
Pras cabrochas do sertão
Ofertando um leitão
Antes que o amor desabe
Porteira velha quando abre
Faz meia lua no chão

O relógio é a natureza
O sol é que orienta
E o dia assim sustenta
Tudo com muita beleza
O café já ta na mesa
Juntamente com o pão
Batata, ovo e fruta pão
Pras que as força num se acabe
Porteira velha quando abre
Faz meia lua no chão

Dando a prosa por acabada
Desapeando de meu cavalo
Com mão e pé cheio de calo
Dessa gente que é estribada
Sem sentir-se arrasada
Da vida dura do sertão
Aprendemos a lição
Que desistir não nos cabe
Porteira velha quando abre

Faz meia lua no chão

Cynara Cardoso